Funciona mais ou menos assim: os únicos pré-requisitos são uma roda de amigos e quantidades industriais de álcool — porque ninguém é intelectual apenas para si mesmo e gente bêbada é muito impressionável.
Primeiro, assuma um ar pedante e use palavras difíceis — para o intelectual, toda e qualquer opinião de terceiros (desde que estes não sejam referências bibliográficas!) é simplória, inconsistente e tende a ser desconsiderada de antemão. Já o vocabulário exótico provoca desconforto nos demais ouvintes, pois lhes incute a sensação de que o interlocutor possui uma cultura específica, um refinamento de ideias e leituras.
Este último não deixa de ser verdade, visto que em determinado momento da conferência, preferencialmente quando o álcool já estiver agindo depreciativamente nas capacidades motora e congnitiva dos demais, você citará um autor inexistente, cuja "obra de referência" — igualmente fictícia — possua um título academicamente viável mas totalmente sem sentido — o que, invariavelmente, despertará admiração em seus ouvintes. É simples: adapte o nome de alguma doença estranha e acrescente o sufixo ov, por exemplo "Leshimaniov". As pessoas respeitam muito os autores russos. Se achar que inventar um autor francês possa ser mais convincente, sugiro algo como Jean-Michell Réveillé — as pessoas também respeitam muito os autores franceses, e autores franceses geralmente possuem Jean no nome. Para o título do livro, utilize palavras comuns ao meio acadêmico, o que formará absurdos como: A estética do amor em espiral. Se quiser impressionar ainda mais, crie, também, um subtítulo. As pessoas respeitam muito livros com título e subtítulo.
O próximo passo é "explicar" superficialmente a ideia que a "obra" desenvolve. Como ninguém nunca terá ouvido falar em tal trabalho, sua missão será bastante facilitada: misture atores famosos de diferentes áreas do conhecimento e discorra sobre suas teorias — é importante frisar que todo o movimento deve ser, impreterivelmente, superficial, de forma a evitar questionamentos por parte de algum dos ouvintes. Cite, também, outros nomes importantes conhecidos do grande público, sempre os introduzindo pela conjunção segundo:
... Leshimaniov parte do espiral — que é a dialética de Hegel. Nós temos a thésis, a antithésis e a síntese. Esta resulta em uma nova tese, o que dá continuidade ao ciclo. O que o livro apresenta é que o Eterno Retorno, de Nietzsche, se aplica nesse ciclo involutário e infidável, porém, segundo Lacan, toda repetição é diferente, o que faz com que mantenhamos padrões de relações, não obstante gerando antíteses para as novas teses que se formam a partir das sínteses anteriores...
Obtido o efeito de impressionamento, finalize o assunto com a desculpa óbvia para a ocasião:
... É um assunto muito complexo para o momento, mas acho que deu para trazer um pouquinho de informação à mesa.
Não se preocupe. Ninguém se lembrará de nada profundamente no dia seguinte, mas com certeza ficará a impressão de que você é efetivamente um intelectual, um ser iniciado em conhecimentos que poucos têm paciência para aturar sóbrios.
Primeiro, assuma um ar pedante e use palavras difíceis — para o intelectual, toda e qualquer opinião de terceiros (desde que estes não sejam referências bibliográficas!) é simplória, inconsistente e tende a ser desconsiderada de antemão. Já o vocabulário exótico provoca desconforto nos demais ouvintes, pois lhes incute a sensação de que o interlocutor possui uma cultura específica, um refinamento de ideias e leituras.
Este último não deixa de ser verdade, visto que em determinado momento da conferência, preferencialmente quando o álcool já estiver agindo depreciativamente nas capacidades motora e congnitiva dos demais, você citará um autor inexistente, cuja "obra de referência" — igualmente fictícia — possua um título academicamente viável mas totalmente sem sentido — o que, invariavelmente, despertará admiração em seus ouvintes. É simples: adapte o nome de alguma doença estranha e acrescente o sufixo ov, por exemplo "Leshimaniov". As pessoas respeitam muito os autores russos. Se achar que inventar um autor francês possa ser mais convincente, sugiro algo como Jean-Michell Réveillé — as pessoas também respeitam muito os autores franceses, e autores franceses geralmente possuem Jean no nome. Para o título do livro, utilize palavras comuns ao meio acadêmico, o que formará absurdos como: A estética do amor em espiral. Se quiser impressionar ainda mais, crie, também, um subtítulo. As pessoas respeitam muito livros com título e subtítulo.
O próximo passo é "explicar" superficialmente a ideia que a "obra" desenvolve. Como ninguém nunca terá ouvido falar em tal trabalho, sua missão será bastante facilitada: misture atores famosos de diferentes áreas do conhecimento e discorra sobre suas teorias — é importante frisar que todo o movimento deve ser, impreterivelmente, superficial, de forma a evitar questionamentos por parte de algum dos ouvintes. Cite, também, outros nomes importantes conhecidos do grande público, sempre os introduzindo pela conjunção segundo:
... Leshimaniov parte do espiral — que é a dialética de Hegel. Nós temos a thésis, a antithésis e a síntese. Esta resulta em uma nova tese, o que dá continuidade ao ciclo. O que o livro apresenta é que o Eterno Retorno, de Nietzsche, se aplica nesse ciclo involutário e infidável, porém, segundo Lacan, toda repetição é diferente, o que faz com que mantenhamos padrões de relações, não obstante gerando antíteses para as novas teses que se formam a partir das sínteses anteriores...
Obtido o efeito de impressionamento, finalize o assunto com a desculpa óbvia para a ocasião:
... É um assunto muito complexo para o momento, mas acho que deu para trazer um pouquinho de informação à mesa.
Não se preocupe. Ninguém se lembrará de nada profundamente no dia seguinte, mas com certeza ficará a impressão de que você é efetivamente um intelectual, um ser iniciado em conhecimentos que poucos têm paciência para aturar sóbrios.